terça-feira, 30 de abril de 2013

I CONBAlf - Congresso Brasileiro de Alfabetização & II SIHELE - Seminário Internacional sobre História do Ensino de Leitura e Escrita


Galera, nos dias 08, 09, 10, 11 e 12 de julho acontecerá o  I CONBAlf - Congresso Brasileiro de Alfabetização & o II SIHELE - Seminário Internacional sobre História do Ensino de Leitura e Escrita - , na Universidade Federal de Minas Gerais. As incrições já estão abertas para ouvintes e comunicação. Os eixos temáticos para o CONBAlf são:                                                                                      1 - Alfabetização na Educação Infantil.
2 - Alfabetização no Ensino Fundamental.
3 - Alfabetização de Jovens e Adultos.
4 - Alfabetização, diversidade e inclusão.
5 - Alfabetização e formação de professores.
6 - Alfabetização e pesquisa acadêmico-científica.

Para o SIHELE, os eixos temáticos são: 
1 - Temas, objetos, fontes documentais, vertentes historiográficas e métodos de investigação nas pesquisas históricas sobre métodos e material didático para o ensino inicial de leitura e escrita.
2 - Produção e circulação de material didático para o ensino inicial de leitura e escrita.
3 - Métodos e material didático para o ensino de leitura e escrita, ações do Estado e movimento editorial.
4 - Métodos e material didático nas práticas pedagógicas no ensino inicial de leitura e escrita.
5 - Métodos e material didático na formação de professores alfabetizadores.
6 - Métodos e material didático para o ensino inicial de leitura e escrita, patrimônio e acervo escolar.
Para maiores informações, acessem o site do evento: http://www.abalf.com.br/eventos.html

segunda-feira, 15 de abril de 2013

VII SIGET




Galera, mais um evento. O VII SIGET, será em setembro, na terra de Iracema (Fortaleza/Ceará). Em terras alencarinas, o tema principal do VII Siget é os gêneros textuais nas múltiplas esferas da atividade humana. A proposta é a de que todas as perspectivas teóricas e metodológicas se encontrem e possam juntas debater a variedade dos gêneros textuais imersos nas múltiplas culturas humanas.
Vale destacar que as inscrições para alunos de graduação até o dia 18/04 serão isentas. A partir dessa data, o valor será de R$ 60,00.



Acessem o site do evento e confiram: http://www.7siget.com/v02/pt/index.php

II SEFELI


Pessoal, em junho, acontecerá o II SEFELI, em São Cristóvão. O evento trará discussões a respeito da língua inglesa quanto da língua materna e outras línguas adicionais, suas literaturas e culturas.
Os eixos temáticos serão: 
  • Formação de professores
  • Ensino e aprendizagem de línguas
  • Multiletramentos e multimodalidade
  • Letramento crítico
  • Letramento digital
  • Estudos da narrativa
  • Gêneros textuais
  • Linguagem e identidade
  • Literatura e cultura
  • Ensino de literatura
  • Material didático
  • Transculturalidade
As inscrições já estão abertas, abaixo, segue o cronograma:


1°. de abril a 20 de maio: inscrição para participantes com comunicação
1°. de abril a 10 de junho: inscrição para ouvintes
4 de fevereiro a 28 de abril: envio de resumos

Lembrando que as inscrições são gratuitas. 

Acesse e faça já sua inscrição: http://www.sefeliufs.p.ht/eixos.php

segunda-feira, 25 de março de 2013

O PÃO DOCE DE CREME QUENTINHO DA PADARIA DA ESQUINA



Christina Ramalho

Longo. O título é longo, tal como me parecia o caminho, que se iniciava na porta de meu apartamento, passava por um elevador preguiçoso, alguns andares, dois portões de saída do prédio, dois sinais de trânsito e dois quarteirões, até terminar no balcão da padaria da esquina, de onde surgia a deliciosa imagem dos pães doces de creme quentinhos, da fornada das quinze horas.
É impossível esquecer a força aguda e penetrante daquele aroma indefinível, que tornava minhas tardes especiais, com sabor de calmaria, infância e aconchego.
Lembro-me de que, ao olhar para o relógio e ver que quinze horas se aproximavam, nem me lembrava de qualquer resíduo de cansaço. Prontamente punha-me devidamente vestida para sair à rua, em busca do doce que me preencheria a tarde. Saía, carregando o dinheirinho amassado no bolso, ansiosa, por pressentir que logo um diabinho sadomasoquista viria soprar em meus ouvidos: “Ande, corra...! Vai acabar, vai acabar...!” E eu andava rapidamente, vencendo as calçadas com determinação e, confesso, com uma espécie de ansiedade gustativa que me enchia a boca de saliva, antecipando o gosto açucarado que logo viria.
Metros antes da entrada da padaria, o perfume macio dos pães parecia indicar o trajeto a ser cumprido. Estavam lá. Prontos para minha fome de alegria.
Sempre escolhia o mais parrudo, que tivesse o creme mais farto e o aspecto mais alegre e açucarado. Delicadeza era o que eu esperava do padeiro no momento em que separasse o pão escolhido dos irmãos de vitrine. Um gesto mais brusco, e a pinça poderia macular a carne macia do pão doce tão analiticamente escolhido... De igual modo, vigiava as mãos que envolviam o pão no plástico protetor e, em seguida, no papel cinza logo agarrado pelo barbante fino. Ai, se me ferissem o escolhido!
Passava no caixa, deixava o pão vertido em dinheiro e levava o original para casa. Saía da padaria em ritmo ainda mais acelerado que na ida. Não queria que o pão esfriasse. E, por isso, mais uma vez longuíssimo se me fazia o tal caminho. Sentia nas mãos a quentura doce do pacote e um resquício do aroma, que, instigando-me, lembrava-me do sabor de que logo desfrutaria.
Abria a porta do apartamento e corria para a cozinha. Recordo-me das tantas vezes em que me deixei cercar pela dúvida: “Dá tempo de colocar o café no copo que antes guardara geléia ou o pão vai esfriar muito?”. Quase sempre me decidia pelo café, também saboroso no ex-copo de geléia, que, nunca descobri o motivo, parecia tornar o café mais café. Desconfio que a falta de cerimônia do ex-copo de geléia deixava o café à vontade para ser autêntico!
Ah... E como não dizer? Completando o ritual, a faca rompia a unidade branca da massa cheirosa, e a margarina invadia discreta a harmonia do pão. Anos mais tarde, nos tempos das vacas menos desnutridas, também haveria a fatia fina de queijo prato, imprimindo ao conjunto um sabor esplêndido de subúrbio, fatura e simplicidade saudável.
Morder meu pão doce de creme, quentinho, tendo como cúmplice o café preto no ex-copo de geléia, era um oásis na tarde esquecida onde se escondiam um apartamento de subúrbio e uma moça quase simples, não fosse a mania antiga de fazer poemas.
Às vezes, eu cometia a tolice da gula e comprava dois ou três pães doces de creme quentinhos. Não me deixou boas lembranças tal tolice, pois, invariavelmente, a saciedade de medida perfeita era substituída pela sensação indigesta do excesso. Bom mesmo era o pão doce de creme quentinho e único em sua justeza quase divina.
Terrível é ter que confessar o quanto me doía, vez por outra, ter que, por boas maneiras, dar um talho quase generoso numa das extremidades do pão, porque uma companhia inesperada também se encantara com a magnitude da guloseima! Deus Meu, quanta avareza! Mas não era a mesma coisa comer o pão maculado pelo alheio olho guloso...
Um dia, a decepção. A fornada passaria a sair às treze horas. Sandice! Disse eu. Quem celebraria o pão doce de creme quentinho com o estômago invadido de almoço? Algo ali se perderia no tempo. E o relógio nunca mais deu quinze horas com a mesma energia. E o longo caminho ficara brevíssimo, já que se desfizera o pretexto cremoso para a saída das quinze horas.
Algo, porém, daquela rotina cercada de rituais, cheiros e gostos, permaneceria na memória de tardes singelíssimas e felizes. Eu ficara repousada ali, num tempo sem tempo, em que um pão doce de creme quentinho da padaria da esquina podia ser um pretexto perfeito para que eu alcançasse a sensação de felicidade. Da hora que se anunciava no relógio ao retorno a casa, acompanhada pelo embrulho quente, tudo estava cercado de magia, tudo tinha um significado absolutamente ingênuo, mas absurdamente completo, se penso nos padrões exigentes com que hoje a sensação de felicidade se apresenta para mim.
Por isso, passo o tempo tentando resgatar meu pão doce de creme quentinho da padaria da esquina. Vislumbro-o, em outras formas: no abraço carinhoso e apertado que minha filha mais nova me pede todos os dias; no cheiro no pescoço com que todas as manhãs acordo minha mais velha; no olhar meigo e cotidiano de minha gatinha a me esperar acabar de rodar a chave na fechadura; na palavra amiga e coruja de minha mãe ao telefone perguntando pelas novidades do dia; na expressão de alegria com que tantas vezes sou recebida nos corredores da universidade; nos pés protetores que roçam os meus na hora do sono; e em outros pequenos gestos e coisas que me cercam dia-a-dia, sem que, muitas vezes, sejam de fato percebidos como merecem.
Talvez resida aí a maior tristeza que a lembrança do pão doce de creme quentinho da padaria da esquina me traga. Algo dentro de mim se perdeu no emaranhado do tempo, algo me fez mais insensível àquilo que persiste, vivo e inteiro, no pão nosso de cada dia que nos é dado em fatias de gestos e sorrisos e palavras e imagens e gostos e pessoas e tudo mais. Em busca de sabores refinados, ignoro e até desdenho a dose singela de rotina em minha vida. E sonho alto, critico tudo e talvez fosse até capaz de ver, numa imagem de pão doce de creme quentinho que alguém me mostrasse, recalques sexuais, complexos freudianos, imaturidade psicológica e mil outras relações que minha mente cansada de ser feliz à moda dos simples constrói cotidianamente para me dar a ilusão de que cresci.
Não. Nada disso importa. Meu coração diz que o pão doce continua lá, imaculado e simples como sempre foi. Preciso apenas reaprender a cuidar da rotina de caminhar ao seu encontro, extraindo de cada passo a alegria que vestiu meus dias de persistência, ausência de cansaço e doçura.
Eis, assim, a lição do meu pão doce de creme quentinho da padaria da esquina: resgatar, sempre e persistentemente, os sabores do cotidiano, venham eles de padarias, escolas, universidades, lares, ruas, escritórios. Venham eles de qualquer lugar do mundo onde haja gente exercitando a tarefa de viver.
 (setembro de 2005)

Publicada no livro Onze cores da uva (Rio de Janeiro: OPVS, 2006. RAMALHO, Christina. Org.)

sexta-feira, 22 de março de 2013

GRUPO AMPULHETA





     Agora, toda semana, você, leitor que gosta de ler e refletir, poderá ler crônicas escritas com  muito carinho e muita dedicação.
Isso se tornou possível porque o curso de Criação Literária está obtendo um ótimo resultado e, para mostrar esse resultado aos apaixonados por leitura, os participantes criaram o blog Ampulheta.         
     O "Grupo Ampulheta" é composto por Christina Ramalho, Éverton Santos, Flávio Passos, João Paulo e Luciana Almeida. Este blog será alimentado semanalmente por uma crônica escrita por um integrante do grupo, no intuito de compartilhar com vocês o que o "Grupo Ampulheta" cria. 

Abaixo, segue o link do blog: 



Agora, semanalmente, você passa a ter um compromisso com o Grupo Ampulheta!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Blogs criados pelos alunos


O professor de Introdução à Psicologia da Aprendizagem, Prof. Marcos de Melo, resolveu criar um novo método de avaliação com os alunos do 5º período, do curso de Letras-Português. O professor sugeriu que a classe fosse dividida em grupos e que cada grupo ficasse responsável em criar um blog que falasse à respeito da complexa relação escola e aprendizagem a partir de vários parâmetros e análises. Os blogs são alimentados semanalmente com conteúdos (resenhas de livros, experiências, depoimentos, vídeos, fotos, entrevistas, pesquisa, etc.) referentes a cada tema. 
A lista dos blogs segue abaixo: 


Visitem os blogs, vocês vão gostar muito.

Reunião Extraordinária 11/03/2013


Na última segunda-feira, aconteceu uma reunião do Conselho do Departamento de Graduação em Letras. A reunião teve a seguinte pauta:

1-      Informes ( Renovação do contrato de Renata)
2-     Aprovação da Ata da reunião anterior
3 - Oferta das disciplinas 2013.1
3-    O que houver

Para os alunos que estão matriculados na disciplina Inlgês Instrumental, o concurso já foi realizado e já temos um professor. Segundo a Chefe do Departamento, o início das aulas está previsto para a próxima quarta-feira (20/03). 


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Uma crônica sobre o amor - Christina Ramalho

Crônica da nossa querida Profa. Christina Ramalho, do DLI.




Uma crônica sobre o amor

Christina Ramalho

Uma crônica sobre o amor deve ser escrita com as palavras que nos dizem os olhos das pessoas contentes que passam pelas ruas. Deve ser escrita com as cores que nós podemos ver quando o sol está perto da montanha e os brincam um com o outro. Deve ser escrita com o som dos pássaros cantando em nossa janela ou com o som de nossas crianças brincando na praça. Deve ser escrita com o gosto do vinho que bebemos para celebrar a felicidade e com o aroma que nós podemos sentir quando nossa mãe está fazendo um bolo de chocolate para nós.

Uma crônica sobre o amor deve ser como uma obra de arte que podemos ver no museu, mas, ao mesmo tempo, deve ser como uma paisagem sem tintas que vive eternamente em nossa memória. Deve ser como um sopro de vida em nosso cotidiano; como um pequeno presente que nos é dado quando acreditamos que todas as coisas estão perdidas; como um aviso de Deus a nos dizer que sempre há uma nova maneira de construir a vida; como uma música de anjos a nos trazer a sensação de doçura e paz.

Uma crônica de amor, sobretudo, nos deve chegar com a mágica que transforma simples palavras em uma oração, uma pequena oração de amor.



Visitem o site de Christina, lá você encontra: poemas, fotopoemas , poesias brasileiras, textos de novos escritores, contos, crônicas, pinturas.  http://www.ramalhochris.com/
Recomendo!

III Colóquio Filosofia e Literatura do Cômico

Pessoal, o Grupo de estudos em Filosofia e Literatura (GeFeLit), que tem como um dos integrantes a Profa. Dra. Jaqueline Ramos do DLI, irá realizar o III Colóquio Filosofia e Literatura do Cômico, nos dias 20-22/03, na Universidade federal de Sergipe, Campus de São Cristóvão. As inscrições com trabalhos (envio de resumos) vão até o dia 24/02, já as inscrições como ouvinte vão até o dia 15/03. A taxa de inscrição (até 04/03) para alunos de graduação custará R$ 20,00. As inscrições são feitas no site do grupo http://www.gefelit.net/ a partir do preenchimento do "Formulário de Inscrição", a inscrição só é confirmada, após o envio do comprovante de pagamento referente ao tipo de sua inscrição. Participem!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Texto de Éverton Santos sobre a tragédia em Santa Maria - RS



De como o Brasil parou num negro domingo sem fim

Éverton de Jesus Santos

Por que nada que se escreva agora será capaz de aclarar, acalmar, devolver o ar? Por que a estupefação é tamanha e o estado de choque enrijece e petrifica o momento? Por que a vida se torna tão nefasta, e viver, tão doído? De que forma se abranda um coração dilacerado pela dor, maculado para sempre pela angústia, marcado pelo ferro-fogo da tragédia? E como apagar as imagens das quais a mente se impregna e como voltar a ser quem sempre foi depois que a chama culmina na morte inevitável? As cicatrizes hão de se apagar, algum dia, completamente?
Houve um incêndio no Brasil. Noticiam os boletins eletrônicos, os jornais de todo o mundo trazem como manchete de capa o acontecido que tragou as vidas de centenas de jovens em Santa Maria. E onde a verdadeira Mãe de Deus estava quando a fumaça tóxica e fatal penetrou em cada pulmão, quando o fogo queimava corpos, na hora em que pessoas caíam e eram pisoteadas, ou que, na agonia, tantos confundiram o banheiro com a porta de saída? Onde estava Deus escondido quando o céu ficou negro e enlutado, quando as lágrimas acendiam e os gritos eram evocados? Onde fica a fé de cada um daqueles que, na correria, pensava em sobreviver ou sabe-se lá em que pensavam, naquele curto instante entre a consciência e a última tragada de ar letal?
Da coragem dos homens que se voluntariaram brotava a força para perfurar paredes. Da água dos Bombeiros vinha o refrigeramento que já não bastava. Das mensagens que ainda podiam ser enviadas vinham os pedidos de socorro, o adeus, o eu te amo último como cada segundo em contagem regressiva. Dos gritos de lamúria e de desespero, meu Deus, quem poderia alguma coisa fazer? Quem, entre aqueles que se espremiam e tentavam se manter em pé rumo à saída, quem, eu pergunto, haveria de salvar ao próximo antes de salvar a si mesmo? Quantos heróis ali dentro morreram, quantos saíram e depois voltaram por lembrar que algo precioso dali não havia saído?
E a angústia intraduzível de ver cada corpo ser retirado daquele inferno, arrastado até a rua, agonizando, desmaiado, ou já tendo entregado o espírito poucos minutos atrás... As narinas queimadas por dentro, as gargantas secas, o oxigênio outrora inodoro, incolor e vital que transgride as normas estabelecidas pela Vigilância Sanitária e se torna um Cavaleiro do Apocalipse em terra com nome santo. Rapidamente, os corpos se amontoam, viram pilhas montanhosas de metros, cada qual contribuindo para que seu nome figurasse numa lista negra tal qual aquele Beijo.
O corre-corre na rua, o sobe-e-desce das polícias, dos bombeiros, dos paramédicos, dos enfermeiros, dos vizinhos, dos curiosos, dos sobreviventes, dos familiares. O choro incontível, o assombro em cada olhar, os telefones em cada ouvido, os relatos de como tudo começou a desmoronar. Muitos são os que põem a camisa no rosto, na esperança de contribuir para a existência do milagre. Muitos são os que pegam seus baldes, ligam interminavelmente suas torneiras, empunham as mangueiras e tentam rescaldar as paredes do espaço de festas. O sofrimento de uns já é de todos. Não há mais quem não tenha perdido alguém naquela tragédia de pesadelos.
A rua fica pequena, tomada por corpos, por feridos, por desacordados, ou por voluntários. Quem não era médico se prontificava a fazer até massagem cardíaca, tentando reanimar quem já tinha embarcado. Outros faziam da camisa ventilador, na ânsia de fazer o ar puro chegar de forma mais eficaz aos pulmões, aos alvéolos, às células pequeninotas e já enegrecidas, gangrenadas. Tudo ali é terror, nada ali faz sorrir, nem mesmo aos que sobreviveram, escapando da ceifadura.
Faz-se turva a manhã. O número oficial de mortos é atualizado a cada instante e nunca decresce. Nos banheiros foram encontrados cerca de cento e oitenta corpos, num curto espaço de local. Na porta de entrada e saída, a mesma, outros tantos que se lançaram à luta, buscando a luz no fim do escuro túnel sem iluminação e de fumaça densa, capaz de cegar e de entorpecer física e psicologicamente. Outros morreram sabe-se lá onde. Talvez perto do palco, ou, quem sabe, no barzinho, na pista de dança ou até, como testemunharam, com a cabeça enfiada no vaso sanitário.
O Instituto Médico Legal, acostumado com a pequena demanda para aquela população de quase trezentas mil pessoas da pacata cidade flutuante, não tem capacidade para receber tantos corpos. Então, a tarefa das Forças Armadas é colocá-los nos caminhões-baú, refrigerados, e descarregá-los no pátio do Ginásio Municipal. Vejo a cena: corpos e mais corpos, sãos e sadios, jovens e cheios de vida, mas agora sem ela, tão prematuramente. Carnificina exposta ao sofrimento de toda uma cidade que agora tem que reconhecer cada morto familiar. A missão é resistir de pé e passar por cada um, tentando levar o seu para a embalagem no caixão, com dignidade. Os pais e irmãos choram. Muitos são os que, mesmo com o respaldo dos psicólogos, dispensam a missão e alegam a fraqueza. Cada um traz consigo a marca da perda, o véu da dor perpassando cada olhar avermelhado e vago, longe dali. A ficha ainda não caiu, e cada oração silenciosa pede que o sonho mau simplesmente acabe e que a vida volte, enfim, ao normal. Mas isso jamais vai acontecer.
É a mãe padecente que reconhece os quatro filhos. É o bombeiro que, após as cento e quatro ligações de uma mãe, atende o celular e diz: “mãe, o celular está comigo, mas o seu filho está com Deus”. São os muitos celulares tocando em cada bolso, sem ter quem os atenda, sem obter o alô mais esperado de toda a vida. É a mãe que brigou com a filha, proibindo-a de ir para a festa e recebendo um “eu te odeio” na cara e que depois foi atingida pela lamentável notícia de que a filha está entre os mortos. É o casal de namorados que morreu abraçado. Ou o cara que postou, na sua rede social, que tinha brigado com a namorada e ela foi para a boate, mas não saiu de lá com vida, e, portanto, não haverá reconciliação. E há ainda a namorada que recebeu a última mensagem do namorado dizendo: “amor, estou morrendo, mas eu amo você”.  Ademais, há a mulher que perdeu o marido há dois anos, a mãe a menos de três meses, e teve que enterrar um filho enquanto o outro estava entubado em estado grave na capital. Há a outra mãe que trabalhava na boate e que, naquele dia, não pôde ir e, por isso, mandou a filha no seu lugar. Ela foi uma das vítimas. Há o caso da moça, também funcionária, que postou: “Socorro, incêndio na Kiss”. Responderam: “Me dá mais informações”, mas ela não mais podia esclarecer nada para ninguém. Naquela madrugada, o dia não clareou. Quantas outras histórias há e haverão para serem reveladas e divulgadas?
Culpa dos seguranças que pensaram se tratar de briga lá dentro e quiseram receber, primeiramente, a comanda dos que tentavam sair. Culpa dos donos do estabelecimento que não ajustaram a boate de acordo com as normas previstas pela lei. Culpa dos músicos que tentaram fazer um showzinho pirotécnico, como era habitual, e provocaram uma calamidade devastadora. Culpa dos extintores que não corresponderam à expectativa e deixaram a multidão entregue ao próprio azar. Culpa dos inadvertidos jovens que superlotaram a boate num final de semana normal a fim de fazer uma “agromeração” e curtir uma festinha, saindo assim da rotina universitária.
Quem, quem tem a culpa? Vamos apurar os culpados e os inocentes, distribuir punições, sentenças, instituir valores por cada uma das vidas perdidas ou hospitalizadas, pelos futuros interrompidos. Vamos ser rigorosos com a segurança dos nossos filhos, exigindo mudanças nas leis. Vamos chorar sobre os caixões enfileirados no Ginásio Municipal. Vamos agora vivenciar um luto de sete ou de trinta dias, à espera de que os ânimos se acalmem! Hasteemos a bandeira a meio mastro, em sinal de condolência, de pesar. Vamos silenciar o pranto e abraçar a emocionada Senhora Presidenta, o Senhor Governador, o Ministro da Saúde e também o Prefeito.
E agora, somos metralhados por uma avassaladora correnteza de informações em tempo real, atualizadas frequentemente. O número de feridos, o de mortos, quantos estão em estado grave, quantos serão transferidos. Somos jogados para dentro do velório comunitário, dos enterros a cada vinte minutos, do reconhecimento de cada corpo ou do traslado dos que morreram longe de onde nasceram. As mesmas imagens são repetidas em todos os canais, os nomes e rostos de cada falecido são revelados, os sentimentos brotam de cada olheira dos repórteres, das faces assustadas e perplexas dos que estão no centro do repentino furacão quente sulista.
Há a imprensa brasileira. E há os que trabalham na tragédia ajudando no necessário para segurar as rédeas do cavalo solto que anuncia a penitência e que traz, a largos galopes, a espada de dor que trespassa cada alma. Há os que doam sangue e os hospitais que cedem tecidos humanos e pessoal especializado. Há os que distribuem palavras de afago, abraços e um olhar de conforto, e os que levam comida e água para os que ainda permanecem sem dormir, sem comer, sem tornar a si. Há os que oferecem dormida, transporte, local para banho, os que deixam a solidariedade falar tão alto quanto a dor pode gritar. E, em meio ao brutal luto, faz-se necessário refletir sobre quem são os que se vão e os que ficam, e sobre como é fugaz e efêmera a vida humana.
Diante da tragédia, Santa Maria vira centro. Todos os olhares e pensamentos se voltam para a cidade, a qual não é mais Rio Grande do Sul, mas Brasil. Enterramos vidas, consumidas de forma tão inexplicável de um ponto de vista racional e menos fisiológico. Eles não morreram. Ainda vivem em cada um dos que perpetuarão as memórias deles quando viviam, de quando a existência neles pulsava. Quanta vida pela frente e obstacularizadas assim, de repente, sem que se tivesse havido tempo para falar ao invés de gritar; de dançar ao invés de correr para encontrar a saída; de viver, antes que a morte os carregasse nessa viagem tão funesta.
Das palavras, diz-se apenas que não conseguem expressar nem o início do que é sentido. Do que se diz ao pé do ouvido, dos “eu sinto muito”, “meus pêsames” ou “minhas condolências”, nada aplaca o frio que percorre desde o corpo dos que são reconhecidos, velados e enterrados até os que ainda peregrinam. Nada leva saúde aos que respiram com ajuda de aparelhos ou que passam pela cirurgia de transplante de pele ou pela transfusão de sangue. Por que, em meio ao caos generalizado, por que, quando o assunto é a morte, palavra alguma serve para revigorar? Será que é porque, depois que a morte vem e leva, nada mais há que a faça devolver quem ela raptou?
De quem vai ser a culpa, ao fim do inquérito, ao fim do julgamento? Quem vai reverter a situação após a apuração das causas do incidente? Quem vai dizer que estava nos desígnios de Deus ou que não havia intenção de provocar esse transtorno? Quem, como e por que são agora perguntas que, embora não sirvam para amenizar o sofrimento de ninguém devido à chama que devasta tantas almas, servirão, futuramente, para responsabilizar quem de direito e combater irregularidades em outros estabelecimentos. Servirá, sobretudo, para que outra ocorrência desse tipo não volte a acontecer, pois, somente quem agora padece de consternação ou quem agora se compadece em tristeza tem a dimensão do que é estar diante de uma fatalidade desse porte. Se é que isso é real.
Enfim, da nossa parte, da parte de quem assiste e vivencia, resta rezar, pedir, ajudar, se sensibilizar, lamentar, entrar na batalha por mudanças na legislação, aguardar na justiça terrena e divina. Chorar os vivos e os mortos, as família destruídas e unidas, os que vão e os que ficam e, principalmente, olhar pelos que ficam e que, inevitavelmente, se vão com quem se foi.

Reunião do Conselho do Departamento de Graduação em Letras - Dia: 25/01/2012

PAUTA

1. Informes.
2. Aprovação das Atas das reuniões anteriores (out., nov., dez.)
3. Alternância de professores nas Disciplinas Língua Portuguesa II e Filologia Românica.
4. Edital de concurso professor adjunto: encaminhamentos e agenda.
5. Edital concurso professor substituto inglês.
6. Edital prof. Latim e afins.
7. Mestrado profissional: atualização das informações.
8. Apresentação da bolsista Josiane.
9. Secretária: impasses
10. O que houves.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Alteração de data do Curso de Extensão da profa. Adriana Sacramento

Galera, diante do triste acontecimento, o curso de extensão ministrado pela profa. Adriana Sacramento "Performance de sentidos: cinema, literatura e sabores", que estava previsto para iniciar no dia 22/01, irá iniciar hoje 24/01, às 16 horas. A concentração será no Departamento de Letras de Itabaiana (DLI).

sábado, 19 de janeiro de 2013

A Mário de Andrade ausente


Poema de Manuel Bandeira escrito após a morte repentina do seu saudoso amigo, Mário de Andrade.


A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo, assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente

Mas agora não sinto a sua falta.

(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz já tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua.
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Manuel Bandeira

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Curso de Extensão "Performance de sentidos: cinema, literatura e sabores"


Pessoal, mais uma novidade no Departamento de Letras de Itabaiana. A professora Adriana Sacramento, do DLI, juntamente com Simone Silveira de Alcântara, irão ministrar o Curso de Extensão "Performance de sentidos: cinema, literatura e sabores". O curso acontecerá entre os dias 22 e 31 de janeiro, no horário de 16h às 18h.

O curso terá como objetivo habilitar o futuro professor para melhor utilizar todo tipo de material audiovisual (cinema e novas mídias) como efetivo apoio de suas atividades pedagógicas e curriculares. Nesse curso, a intenção não será simplesmente refletir acerca de adaptações da literatura para o cinema e de como esse ou aquele elemento da narrativa (ou da poesia) foi transposto para as telas, mas, sobretudo, compreender um pouco mais a sintaxe dessa linguagem para que professores e estudantes possam degustá-la melhor. Assim, compreendendo um pouco mais a linguagem do cinema, seja ele documental ou ficcional, o objetivo será mostrar de que maneira os conteúdos das obras apresentadas poderão servir à discussão de aspectos ligados à construção de consciência estética e cidadã a partir de filmes sobre a performance que envolve o alimento nosso de cada dia, mas que poderão suscitar reflexões em diferentes disciplinas da grade curricular.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

61° Seminário do GEL



Estão abertas as inscrições para o 61° Seminário do GEL, que será realizado na Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, nos dias 10,11 e 12 de Julho de 2013.
Apenas os associados do GEL podem apresentar trabalhos nos seminários. Na modalidade painel, os alunos de graduação podem apresentar trabalhos sem a necessidade de se associar. 
Os que têm interesse em apresentar trabalho no evento, devem concluir o processo de associação antes do dia 14/02,  por meio do site do GEL.
No site é possível encontrar todas as edições da Revista de Estudos Linguísticos. 
Mais informações em: http://www.gel.org.br/novo/



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Noite Literária - Colégio Guilherme Campos



O Colégio Estadual Guilherme Campos, localizado na cidade de Campo do Brito, realizará na próxima terça-feira (18/12), às 19h a Noite Literária. Haverá apresentações de vídeos produzidos pelos alunos da instituição como Tieta, Memórias de um Sargento de Milícias, Morte e Vida Severina, Família composta, O Beijo do Asfalto e O auto da Compadecida, além de outras apresentações realizadas ao vivo. O Colégio Guilherme Campos tem 59 anos de compromisso e responsabilidade com a educação e seus alunos. Curtam a página do Colégio em:  https://www.facebook.com/ceguilhermecamposoficial?fref=ts

Meu king-kong predileto ou Há olhos sob as telhas - Christina Ramalho



Meu king-kong predileto nasceu por volta dos anos 80, num final de tarde, na Tijuca. É, pois, um king-kong carioquíssimo. E, como tal, não poderia deixar de ser uma mistura de graça com irreverência e muita ironia! Cultivo-o na memória como uma lição de vida preciosa. E, embora saiba que, revelando-o, entrego-me ao cadafalso, eis sua história:
Fui estudante da Faculdade de Arquitetura da UFRJ. Nessa época, morava na casa de meus padrinhos, na Tijuca, e, por isso, era passageira constante do ônibus  634 – Praça Saens Pena/Dendê, o único que me levava à ilha do Fundão. De manhã, bem cedinho, inaugurava a fila do ponto final e, à tarde, descia do ônibus no mesmo ponto de onde partira. No vai-e-vem casa/faculdade, costumava fazer da janela tela para os pensamentos, e tudo o que via transformava-se de repente ora em lembranças ora em sonhos.
Essa mania de brincar com as cenas do cotidiano e fazer das pessoas, animais, carros e construções modelos para meus devaneios foi reforçada por uma interessante aula sobre telhados na faculdade de arquitetura. A partir das palavras do professor, pude perceber que, apesar do meu hábito de observar o mundo à minha volta, jamais me dera conta do universo vermelho, cinza e pontiagudo dos telhados da cidade. Saí da aula ansiando pela oportunidade de rever minha paisagem e descobrir segredos desconhecidos.
 Sentei-me no primeiro banco do ônibus do velho 634, e, voltando para casa, passei a observar os inúmeros e diversos tipos de telhados que nossa cidade apresenta aos olhos dos interessados no assunto. Incrível perceber que até então nada disso tinha sido observado. Redescobri a cidade. Telhas francesas, telhas canais, telhas de amianto, telhas coloridas, telhados de duas, quatro águas... A luz do sol escondia-se discretamente, entre prédios altos, árvores e montanhas, mas, vez por outra, era possível observar o contraste entre o alaranjado que se esparramava pelo céu e as pontas triangulares dos telhados. Pude vislumbrar mãos em oração buscando o céu. Era lindo.
De repente, ao olhar para o lado do motorista, dei com o mesmo me olhando de forma acintosa. Estava sendo descaradamente paquerada. Eu, tão inocente, a devanear entre as cumeeiras e rosas-de-vento! Quem dava àquele sujeito o direito de invadir a privacidade de meus pensamentos obrigando-me a pensar nele? Quem lhe dava o direito de me olhar com aqueles olhos apertados, prontos para uma piscadela oferecida? Aborrecida, maquiei na face a mais perfeita máscara de desprezo, olhei em seus olhos atrevidos e virei, solene, meu rosto em direção à minha sedutora amiga, a janela.
Qual não foi minha surpresa ao constatar que, entretida com os telhados da cidade, não percebi a chegada ao ponto final e o decorrente desembarque de todos os passageiros!!
O pobre do motorista, esnobado como havia sido, ainda teve a gentileza de me sorrir, embora, por dentro, devesse estar gargalhando sem parar... Creio ter-lhe oferecido, então, o sorriso mais amarelo do mundo. Arqueei as sobrancelhas num misto de vergonha e pedido de perdão, peguei o recém-nascido king-kong no colo e saí de fininho, porta afora, incrédula.
Sob as telhas da Tijuca, olhos abstratos me olhavam. Pude sentir, pela primeira vez, que eu fazia parte do espetáculo da vida. Ninguém assistira a meu ridículo, mas eu sabia: o mundo é espectador e meu ridículo invadirá as vertigens tempo e eu serei sempre a protagonista dessa comédia.
 Quase vinte anos depois, volto-lhe em palavras, meu caro motorista: desculpe-me o gesto áspero, o pensamento preconceituoso e, principalmente, a expressão de superioridade. King-kongs costumam ser assim. Chegam para arrasar. No meu caso, quase não sobraram pernas para carregar meu corpo envergonhado ônibus afora.

(crônica publicada no livro Colheita de uvas, 2002)

Acessem o site da Profa. Christina Ramalho: http://www.ramalhochris.com/ 
Lá, vocês encontram fotopoemas, pinturas, poemas, contos e crônicas, poesias, novos escritores, eventos e muito mais. Sempre estaremos postando crônicas da professora, aqui no nosso blog. E viva a leitura!


domingo, 16 de dezembro de 2012

III SINALEL




O III SINALEL ocorrerá durante o período de 11 a 14 de junho de 2013, será realizado no Campus Catalão da UFG.
O tema do evento é LINGUAGEM, CULTURA, IDENTIDADE E ENSINO e aceitará propostas de Grupos de Trabalhos (GTs) e Mesas Redondas nas áreas citadas e na área de Letras: literatura e linguística, bem como trabalhos que vislumbram o ensino dessas duas subáreas do curso de Letras. Os trabalhos poderão ainda enfatizar questões culturais e de identidade. As inscrições para comunicação nos GTs estarão disponíveis até o dia 28/02, há também a opção na modalidade pôster. O valor da taxa de inscrição é R$ 40,00 (com apresentação de trabalho) e R$ 30,00 (sem apresentação de trabalho). Veja mais em:   http://www2.catalao.ufg.br/page.php?site_id=109

sábado, 15 de dezembro de 2012

Os sapos - Manuel Bandeira


Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...

Poema de Manuel Bandeira apresentado na Semana de Arte Moderna de 22, o autor não pôde comparecer, mas mandou seu poema.